quarta-feira, outubro 31, 2007

A FUNÇÃO PSI

Freud JAMAIS ALTEROU, diferentemente do que ocorreu com vários outros de seus conceitos, seu CONCEITO DE PSICOLÓGICO, que tomou, sem abertamente assumi-lo, de Franz Brentano, qual seja: PSÍQUICO é sinônimo de INTENCIONAL.
O fato de não ter sido capaz de RECONHECER EXPLICITAMENTE seu débito para com aquele filósofo, de quem foi aluno, obscureceu um significativo aspecto da revolução que operou no estudo da alma humana.
Com efeito, a proposta de Brentano, silenciosamente incorporada por Freud, substitui, na abordagem do debatidíssimo Problema Corpo-Mente, a LÓGICA DO ENTE, pela LÓGICA DO PROCESSO. A melhor forma de compreender isso é compreender duas inelutáveis conseqüências dessa substituição:
A primeira, embora nem sempre bem formulada, é bastante conhecida: se uma ENTIDADE MATERIAL – um neurônio, especialmente – DESEMPENHAR PARTE ATIVA em um PROCESSO INTENCIONAL, ele é, derivadamente, um ENTE PSICOLÓGICO, mesmo que não haja nenhum concomitante consciente de sua atividade. Essa premissa sustenta a parte da revolução psicanalítica que propõe – não a EXISTÊNCIA de um inconsciente, desde havia muito reconhecida – mas o direito de afirmar a natureza, não meramente NEUROLÓGICA, mas PSICOLÓGICA desse inconsciente, desde havia muito negada.
A segunda é mais espantosa, talvez porque tão ocultada, o de que uma ENTIDADE CONSCIENTE – um afeto, por exemplo – se não estiver desempenhando parte ativa em um processo intencional, NÃO É DE NATUREZA PSICOLÓGICA. Isso é claramente estatuído no Cap. VII de “A Interpretação dos Sonhos”, onde Freud afirma que, nos processos demenciais (“de-mência” = perda da mente), vivências conscientes como, por exemplo, um afeto, se são derivados da aleatoriedade (= não intencionalidade) de “processos destrutivos orgânicos”(como, por exemplo, tipificam o Mal de Alzheimer), NÃO DEVEM SER CONSIDERADAS PSICOLÓGICAS.
Até onde sei, continua esquecida até hoje essa dimensão da revolução freudiano-brentaniana no que diz respeito às relações entre a consciência e o psicológico.